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VOCÊ FOI FELIZ EM 2020?


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Uma pergunta que pode soar ordinária para abrir um texto de encerramento de um ano duro como esse, mas que pode gerar uma reflexão extraordinária se estivermos com o coração aberto.


Este texto é um convite para refletirmos juntos. Ao final, tenho certeza de que cada um encontrará sua própria resposta.


Para começar a falar de felicidade, cito o filósofo estóico Sêneca, que aponta um caminho que pode inspirar-nos:


“O homem feliz não conhece bem maior do que o que ele pode dar a si próprio”.


A ideia que ele nos apresenta é de que a felicidade é uma busca interna e não externa como a sociedade de consumo nos faz acreditar.


Até podemos nos dar um carro de luxo, mas para fazer isso geralmente abrimos mão de tanta coisa realmente valiosa no caminho que no máximo teremos alguns momentos de vã alegria. É claro que não é sobre carros de luxo que Sêneca está falando.


Só podemos dar a nós próprios o que temos e só temos aquilo que cultivamos.

O que cultivamos forma nosso ser e apenas o que somos pode nos fazer feliz.


Não adianta procurar a verdadeira felicidade em coisas, objetos e nem mesmo em outras pessoas. E também não faz sentido viver a vida inteira buscando a tal felicidade. Como diz aquela famosa frase (que atribuem ao Gandhi, mas que também poderia ser do Fernando Pessoa ou da Clarice Lispector): a felicidade é o caminho.


Então, para respondermos a pergunta que guia este texto, precisamos refletir sobre o caminho que percorremos ao longo de 2020. Que ano, não? Provavelmente o ano mais intenso e complexo de nossas vidas. Um ano extremamente difícil. Para uns bem mais que para outros, mas certamente desafiador para todos.


Eu, do alto do meu privilégio, consegui extrair alguns aprendizados durante a caminhada. Todos eles são resultado da busca interna que empreendi e podem ajudar em nossa reflexão.

APRENDIZADO #1

A verdadeira felicidade nasce da simplicidade


Quanto mais conseguimos viver uma vida simples, mais próximos estamos da verdadeira felicidade.


Já ouviu aquela história de que as coisas que possuímos acabam por nos possuir?

E aquela passagem bíblica que diz que é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus? Com certeza deve ter visto pessoas simples mais felizes do que pessoas cheias de grana. Pois é, são diferentes expressões dessa mesma verdade.


O reino dos céus, assim como o temido inferno, está dentro de nós. Não são lugares para onde iremos após morrer. São estados de espírito que manifestamos conforme nossos pensamentos e ações. O inferno é uma tormenta interna causada pelas prisões deste mundo. O reino dos céus é paz de espírito, que alcançamos justamente quando nos livramos dessas prisões. A simplicidade pavimenta o caminho até lá. Na simplicidade encontramos tudo que precisamos para uma vida abundante e feliz.


Por isso, arrisco-me a dizer que, quanto maiores foram suas expectativas para 2020, maiores as chances de você ter se frustrado e estar agora com a sensação de não ter tido um ano feliz. Uma das grandes lições desta pandemia é a importância de aprendermos a viver uma vida mais simples. De repente podemos perder tudo. E se estivermos presos às ilusões do mundo exterior, facilmente sucumbimos.


APRENDIZADO #2

A verdadeira felicidade faz sua morada na gratidão


Quanto mais conseguimos ser gratos pelas coisas que acontecem em nossa vida, independente se gostamos ou não, mais felizes somos. Esse conceito é um importante complemento à ideia de simplicidade, pois para ser feliz com as coisas simples você precisa aprender a ser grato por tudo. Como sentir paz interior se estamos sempre insatisfeitos e vivemos em constante reclamação?


Infelizmente a palavra gratidão está desgastada por ser usada de forma superficial. Para não virar papo hippie, trago evidências científicas. Estudos de diferentes universidades dos EUA, entre elas Harvard, mostraram que o ato de ser grato faz o indivíduo mais feliz e menos propenso a doenças. A gratidão, se cultivada por longos períodos, acarreta benefícios biológicos, psicológicos e sociais.


A magnífica professora Lúcia Helena Galvão ensina que gratidão é uma questão de confiar na vida, de acreditar que ela é Cosmos e não Caos. Logo, seus acontecimentos obedecem uma inteligência suprema e exata, dando a cada um aquilo que lhe corresponde.


Eu sei que fica mais difícil ser grato em meio a uma pandemia, especialmente para pessoas que não têm os mesmos privilégios que eu e que muitos dos que estão lendo. Para quem perdeu pessoas próximas então, fica praticamente impossível. Mas quer você acredite ou não, quer você consiga ou não, sem gratidão a felicidade não tem onde fazer sua morada.


APRENDIZADO #3

A verdadeira felicidade se realiza na compaixão


Até agora falamos em simplicidade e gratidão, aspectos mais individuais da felicidade. Acredito, porém, que não existe felicidade completa sem compaixão. Tom Jobim cantou que é impossível ser feliz sozinho. O filósofo inglês Bertrand Russell, em sua obra “A conquista da felicidade”, concluiu que é necessário alimentar uma multiplicidade de interesses e de relações com as coisas e com os outros homens para ser feliz. Para ele, em síntese, a felicidade é a eliminação do egocentrismo. Você já deve ter escutado a palavra ‘Ubuntu’, cuja origem é africana. É uma palavra de tradução não exata, mas significa algo como “sou o que sou pelo que nós somos”. Ela expressa ações que realizamos buscando nosso bem-estar e o de todos à nossa volta.


Todos esses conceitos apontam para uma única direção: a felicidade só é real quando compartilhada. Não podemos ser felizes quando vemos nossos irmãos sofrendo. E talvez aqui resida a maior dificuldade de termos sido realmente felizes em 2020. Algumas pessoas simplesmente desligaram os noticiários para tentar se esconder em suas bolhas de pseudofelicidade. Uns por egoísmo, outros por incapacidade de agir diferente. Muitos, entretanto, descobriram o poder da caridade e da doação e fizeram o que puderam para ajudar a comunidade. Esses provavelmente conseguiram ser mais felizes.


Não estou falando para abrir mão de sua vida e se jogar em alguma missão humanitária. E nem estou falando sobre grandes doações em dinheiro. O que acredito é que devemos ter empatia e tentar fazer o que estiver ao nosso alcance para aliviar a dor e o sofrimento de quem pudermos ajudar. Especialmente em tempos como este. Podemos doar nosso tempo. Podemos doar palavras de carinho. Podemos doar nossa atenção. Pode ser para pessoas mais carentes, mas também pode ser para pessoas próximas. Um ato de carinho com a avó, uma ajuda para o vizinho, uma ligação para aquele colega que perdeu o emprego. Só você sabe o que pode fazer pelo outro. Eu só sei que quanto mais você fizer, mais feliz você se sentirá.


Simplicidade. Gratidão. Compaixão.

Em 2020 aprendi que, quanto mais cultivamos essas virtudes, mais felizes somos.

Por isso gosto tanto da frase de Sêneca que citei no início do texto.

Temos em nós tudo de que precisamos para construir nossa felicidade.


Mas engana-se quem pensa que estou aqui para falar que tive um ano feliz. Aprendi mais sobre o que me faz feliz e tive sim o privilégio de vivenciar momentos felizes.

Claro que não fui feliz o tempo todo. Felicidade, afinal, é o caminho, lembram?

E para todos nós o caminho foi tortuoso.


Agora pergunto a você: conseguiu ser feliz em 2020?

Espero que tenha ao menos experimentado um pouquinho de felicidade.

Se não deu, tudo bem.

2021 está aí.

Um novo ciclo que começa, com novas oportunidades.

Mas se eu puder dar um conselho, desta vez tente elaborar novas resoluções de ano novo.

Diminua suas expectativas.

Agradeça pelas coisas que você tem.

Busque ajudar mais pessoas.

Não peça por dinheiro ou por um novo amor.

Queira simplesmente ser uma pessoa melhor.

Este já é um ótimo começo e, se você de fato fizer acontecer, 2021 provavelmente terá um ótimo fim.


Feliz ano novo!




 
 
 

1 Comment


Marcia Cazeloto
Marcia Cazeloto
Dec 31, 2020

Gratidão pelas reflexões 😉✋

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